AMARRAÇÃO.
Este é um dos temas
mais polémicos de que podemos falar, não só no enquadramento do Candomblé, como
de qualquer prática religiosa que utilize rituais de magia.
Cabe em primeiro lugar
salientar que a magia, como tudo na vida, tem o seu lado bom e o seu lado mau,
ou se preferirmos, o seu lado positivo e o seu lado negativo, e cabe a cada um
de nós escolher a utilização que lhe queremos dar.
Está na natureza
humana a constante luta por conseguir tudo aquilo que pretende, desde os objetivos
mais elevados, até àqueles que nem vale a pena descrever… de tão ignóbeis que
podem ser.
E uma vez mais, aqui, também é a nossa escolha que prevalece.
Somos
nós que escolhemos as nossas metas e os nossos objetivos, e por isso, cabe-nos
a nós também escolher os meios.
E se não é tão
questionável que os fins justifiquem os meios, devemos de facto preocupar-nos
com os meios que escolhemos para atingir os nossos fins, porquanto, pelo
caminho, estão quase sempre em jogo pessoas… e até vidas!
Particularmente no
Candomblé, e porque esta página a ele é dedicada, a prática de rituais de magia
é uma constante, mas, vamos então analisar como ela é utilizada e como deveria
ser utilizada.
Os Ebós, as Oferendas
e as Simpatias, são algumas das formas de magia que utilizamos, mas estes,
todos eles sem exceção, foram criados originalmente com o intuito de corrigir
alguma situação errada na vida de uma pessoa e para tal pode-se recorrer ao
auxílio de diversas entidades; em primeira linha aos Orixás e depois, a outras
entidades, que pelo seu estado evolutivo e pelas suas características, se
assemelham mais a nós, humanos aqui enquadram-se os Exús pagãos, as Pomba giras
e os Caboclos e estão de facto num plano mais próximo de nós.
Qualquer destas
entidades pode ser uma mais valia na vida de uma pessoa, pois o seu auxílio
chega sempre, e se devidamente tratados são nossos aliados preciosos.
Mas a magia, como já
referi, também tem as duas faces da moeda, e a quem a pratica, é necessário,
diria mesmo essencial, conhecer os dois lados, tornando-se mais uma vez
necessário escolher o lado que se vai utilizar, e esse lado deve ser sempre o
lado positivo e construtivo.
Poderíamos aqui, a
título de exemplo, encarar como um veneno, que pode ser utilizado e para o qual
é necessário conhecer o antídoto: é do próprio veneno da cobra que se criam os
antídotos que são utilizados para curar quem é picado por ela na magia, a
grosso modo, também temos que conhecer tanto o veneno como o antídoto, porque
para se tratar ou curar alguém que tenha sido atingido pela magia negativa, é
necessário saber contrapor com a magia positiva.
Obviamente, não vou
aqui explicar nem o poderia fazer os detalhes desse conhecimento, o importante
é que fique claro que quem mexe com um lado tem que conhecer o outro.
Embora não pertencente
ao Candomblé, um dos magos mais conhecidos de sempre São Cipriano começou por
ser um dos melhores magos que já se conheceram a manejar a chamada Magia
Branca, mas de igual modo, mais tarde na sua vida, virou, e tornou-se um dos
mais temidos e eficientes magos da Magia Negra.
Também para ele isto
só foi possível porque tinha conhecimento verdadeiro e profundo de como os dois
lados funcionam.
Portanto, assim como
se pode.
Amarrar, também se pode sem dúvida Desamarrar, mas isto só é possível
a quem tenha verdadeiros e fundamentados conhecimentos.
Convenhamos, no
entanto, que não são muitos aqueles que estão verdadeiramente capacitados para
isto, portanto, quando pensar em fazer ou solicitar uma Amarração, pense, não
duas, não três vezes, mas muitas vezes naquilo que está a pedir, ou vai fazer,
pois você jamais terá a garantia de que o seu pedido possa ser atendido devido
a um conjunto de fatores que podem estar envolvidos e que você certamente
desconhecerá.
Ao fazer uma
Amarração, você não só estará a pedir algo para si, como estará a mexer com a
vida de outra pessoa, e de alguma forma forçando-a a agir de uma maneira que
ela muito provavelmente não quer, não de forma voluntária e consciente.
Quando isso acontece,
muita coisa se altera, e por vezes os resultados não são nada satisfatórios e
são até perniciosos para a vida das pessoas envolvidas.
Imagine uma situação
em que você quer muito ficar com uma outra pessoa e faz uma Amarração para
conseguir o seu intento.
Imagine agora que uma
segunda pessoa está interessada nessa mesma pessoa para quem você fez a
Amarração e resolve também, para conseguir o seu intento, fazer também uma
Amarração.
Como é que fica essa
pessoa que está pelo meio?
E você, vai conseguir
o seu intento?
Ou é a outra pessoa
que vai conseguir?
Este tipo de situação
não é inédito, é até cada vez mais comum, dado que são cada vez em maior número
as pessoas que recorrem a este tipo de magia (embora a maioria jamais vá
admitir que o fez!), e garanto que daqui não sai nada de bom para nenhuma das
partes envolvidas, só confusão e mais confusão e muita dor.
Cria-se assim um ciclo
vicioso, e nenhuma das partes vai sair a contento.
Ainda que
posteriormente seja feita a magia para. Desamarrar, entretanto, já muita coisa
aconteceu que não tem retorno e já nada voltará a ser como era antes, ainda que
a Desamarração seja um sucesso.
Amarração mexe com o
destino da pessoa, e nós simplesmente não temos o direito de impor a nossa
vontade na vida e no destino dos outros.
Esta forma de utilizar
a magia não é de todo uma forma positiva.
Está na hora de todos percebermos
isto e agirmos em conformidade.
Gostaria, de uma vez
por todas, que os verdadeiros adeptos e/ou praticantes do Candomblé,
independentemente do posto que ocupem,pensassem determinadamente a aceitar
este tipo de trabalhos que constantemente nos pedem, ou sequer de pensar neles
como uma solução para as nossas vidas, porque não é de fato uma solução; mais
que não seja, pelas consequências cármicas que lhes são inerentes e que o nosso
lado espiritual jamais deve esquecer chama-se Lei do Retorno!
Há sempre uma forma diferente
de ajudar as pessoas…
Pelo lado positivo!
Axé!
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