terça-feira, 1 de março de 2016

HISTORIA DE EXU MARABO

HISTORIA DE EXU MARABO



O reino estava desolado pela súbita doença que acometera a rainha. Dia após dia, a soberana definhava sobre a cama e nada mais parecia haver que pudesse ser feito para restituir-lhe a saúde.

 O rei, totalmente apaixonado pela mulher, já tentara de tudo, gastara vultosas somas pagando longas viagens para os médicos dos recantos mais longínquos e nenhum deles fora capaz sequer de descobrir qual era a enfermidade que roubava a vida da jovem.

 Um dia, sentado cabisbaixo na sala do trono, foi informado que havia um negro querendo falar com ele sobre a doença fatídica que rondava o palácio. Apesar de totalmente incrédulo quanto a novidades sobre o caso pediu que o trouxessem à sua presença.

 Ficou impressionado com o porte do homem que se apresentou. Negro, muito alto e forte, vestia trajes nada apropriados para uma audiência real, apenas uma espécie de toalha negra envolta nos quadris e um colar de ossos de animais ao pescoço. -

 Meu nome é Perostino majestade.

 E sei qual o mal atinge nossa rainha.

 Leve-me até ela e a curarei.

 A dúvida envolveu o monarca em pensamentos desordenados.

 Como um homem que tinha toda a aparência de um feiticeiro ou rezador ou fosse lá o que fosse iria conseguir o que os mais graduados médicos não conseguiram?

 Mas o desejo de ver sua amada curada foi maior que o preconceito e o negro foi levado ao quarto real.

 Durante três dias e três noites permaneceu no quarto pedindo ervas, pedras, animais e toda espécie de materiais naturais.

 Todos no palácio julgavam isso uma loucura.

 Como o rei podia expor sua mulher a um tratamento claramente rudimentar como aquele?

 No entanto, no quarto dia, a rainha levantou-se e saiu a passear pelos gramados como se nada houvesse acontecido.

 O casal ficou tão feliz pelo milagre acontecido que fizeram de Perostino um homem rico e todos os casos de doença no palácio a partir daí eram encaminhados a ele que a todos curava.

 Sua fama correu pelo reino e o negro tornou-se uma espécie de amuleto para os reis.

 Logo surgiram comentários que ele seria um primeiro ministro que agradaria a todos, apesar de sua cor e origem, que ninguém conhecia.

 Ao tomar conhecimento desse fato o rei indignou-se, ele tinha muita gratidão pelo homem, mas torná-lo autoridade?

 Isso nunca!

 Chamou-o a sua presença e pediu que ele se retirasse do palácio, pois já não era mais necessário ali.

 O ódio tomou conta da alma de Perostino e imediatamente começou a arquitetar um plano.

 Disse humildemente que iria embora, mas que gostaria de participar de um último jantar com a família real.

 Contente por haver conseguido se livrar do incomodo, o rei aceitou o trato e marcou o jantar para aquela mesma noite.

 Sem que ninguém percebesse, Perostino colocou um veneno fortíssimo na comida que seria servida e, durante o jantar, os reis caíram mortos sobre a mesa sob o olhar malévolo de seu algoz.

 Sabendo que seu crime seria descoberto fugiu embrenhando-se nas matas.

 Arrependeu-se muito quando caiu em si, mas seus últimos dias foram pesados e duros pela dor da consciência que lhe pesava.

 Um ano depois dos acontecimentos aqui narrados deixou o corpo carnal vitimado por uma doença que lhe cobriu de feridas.

 Muitos anos foram necessários para que seu espírito encontra-se o caminho a qual se dedica até hoje.

 Depois de muito aprendizado foi encaminhado para uma das linhas de trabalho do Exu Marabô e até hoje, quando em terra, aprecia as bebidas finas e o luxo ao qual foi acostumado naquele reino distante.

 Tornou-se um espírito sério e compenetrado que a todos atende com atenção e respeito.

 Saravá o Sr. Marabô!

Obs.: A Falange do Exu Marabô é formada por inúmeros falangeiros que levam seu nome e esta é apenas uma das muitas histórias que eles têm para nos contar.

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