terça-feira, 1 de março de 2016

HISTÓRIA DA RAINHA MARIA FARRAPO

HISTÓRIA DA RAINHA MARIA FARRAPO


A condessa Sophia estava novamente com problemas, por isso chamou a negra Calú.
Da primeira vez em que ficara grávida fora do casamento seu socorro viera através da escrava conhecedora de ervas que expulsavam o feto como que por encanto.
Desta vez o assunto era ainda mais sério, estava grávida de um negro, como explicar ao conde, louro de olhos azuis e pele alvíssima, um filho que, certamente, nasceria mulato?
Calú entrou cabisbaixa nos aposentos da condessa e foi informada que deveria novamente proceder como há quatro meses.
A escrava ficou boquiaberta: - Senhora, como deixou isso acontecer novamente em tão pouco tempo?
É muito perigoso provocar sangramento quase seguido!  
Foi calada por um violento tapa  
Como ousa julgar os atos de sua senhora, negrinha vagabunda?
Eu te chamei para fazer o seu serviço e é isso que deve fazer.
Vá buscar as o que necessitas e volte imediatamente com tudo pronto ou mandarei te surrar até que morras!
Desorientada pela agressão, Calú embrenhou-se na mata para procurar as ervas que conhecia tão bem.
Seu rosto ainda queimava pela agressão e também pelo ódio que invadia seu coração.
Ela que sempre fora fiel, facilitara os encontros clandestinos da condessa em várias ocasiões, e não foram poucas, causara-lhe o primeiro aborto e nem um obrigado tivera ainda tinha que apanhar?
Vagabunda era ela, que se vestia com capricho, perfumava-se e fazia o papel da esposa perfeita ao lado do conde e ao menor afastamento deste, deitava-se em qualquer lugar com qualquer um.
E depois ela é quem tinha que virar-se para dar um fim aos bastardinhos?
Hoje iria à forra, seria o seu dia de vitória.
Apanhou ervas que em nada serviriam para o aborto proposto.
Fez uma mistura que após a infusão levaria a mulher à morte em pouco tempo.
Aí sim ficaria contente, ver aquele poço de vaidade e devassidão morrendo lentamente pelas suas mãos.
Entrou no quarto e a condessa encontrava-se deitada.
Já está pronto o remedinho, minha querida?  
Além de tudo era cínica  
Sim senhora, preparei uma grande caneca e hoje mesmo estará livre do seu mal.
 Ah que bom!
Desculpe sim?
Se perdi a paciência com você, mas não gosto que me ponham contra a parede.
  Calú lançou lhe um olhar furtivo
Não foi nada, já esqueci!
Tome o chá e fique deitada.
Em poucos minutos a mulher começou a sentir dores insuportáveis.
Calú esse não é o mesmo chá?
Estou com dores horrorosas!  
É assim mesmo, senhora, faz muito pouco tempo do outro acidente.
Intimamente a escrava alegrava-se ao ver o sofrimento da condessa.  
Calú, estou morrendo!  
A negra subiu sobre a cama e falou: Isso mesmo, condessinha vagabunda, estou livrando o mundo de uma podridão.
Morra infeliz!
A porta se abre e uma escrava ouve as últimas palavras, sai correndo e gritando pela enorme mansão:
A Calú está matando a condessa!
Em poucos minutos o chefe da guarda, invade o quarto e vê a cena, a condessa morta sobre a cama e a escrava rindo histericamente ao lado.
Um golpe certeiro de sua espada corta o pescoço da mulher, a cabeça de Calú cai sobre o corpo inerte de sua vítima.
Depois de muito vagarem por tortuosos caminhos inferiores, os espíritos de ambas, encontraram-se em uma lei de esquerda.
Na linha de Maria Mulambo, conseguiram o fio condutor de uma lenta e necessária evolução.
Este é um dos raros casos em que dois espíritos ligados pelo ódio em terra, uniram-se para a evolução sob a mesma lei.
Sophia hoje atende por Maria Mulambo das Sete Catacumbas e Calú, por Maria Mulambo das Almas.

Laroiê as Pomba-gira!

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