terça-feira, 1 de março de 2016

BABA AJALÁ, O MODELADOR DE CABEÇAS.

BABA AJALÁ, O MODELADOR DE CABEÇAS.
Odudua criou o mundo, 
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos. 
Deu-lhe ossos, pele e musculatura. 
Fez os machos com pênis 
e as fêmeas com vagina, 
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue. 
Olodumare pôs no homem a respiração 
e ele viveu. 
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse 
a obra criadora de Oxalá.
Assim, é Ajalá que faz as cabeças de dos homens e mulheres. 
Quando alguém esta para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno. 
Se Ajalá está bem, faz cabeças boas. 
Se está bêbado, faz as cabeças mal cozidas, 
passadas do ponto, malformadas. 
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.
Cada um escolhe o ori(**) que vai ter na Terra.
Lá escolhe uma cabeça para si. 
Cada um escolhe seu ori
Deve ser esperto, para escolher cabeça boa. 
Cabeça ruim é destinho ruim, 
cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade,
tudo o que é bom.
(*) Ajalá =  orixá da Criação, é encarregado de fabricar as cabeças, ori; 
está esquecido no Brasil e Cuba.
(**) ori =  cabeça, destino.


Ajalá modela a cabeça do homem. Wande Abimbola, 1975, pp. 32-3, 125-32. 
Ajalá está esquecido no Brasil, tendo sido substituído por Iemanjá, a dona das cabeças, a quem se canta, no xirê, quando os iniciados tocam a cabeça com as mãos para lembrar esse domínio, e na cerimônia de sacrifício à cabeça (bori), rito que precede a iniciação ao orixá daquela pessoa. 

A cabeça, o ori, é associada ao destino, que não pode ser mudado, e mesmo a infelicidade é entendida como consequência de uma escolha mal feita. 

Em Cuba, conforme vários mitos, Odudua teria feito as cabeças, as quais são cultuadas no assentamento individual de cada iniciado da entidade denominada Ossum, que na mitologia africana é uma das mulheres de Orunmilá. 

Não confundir com Oxum. 

Babá Ajalá, o Modelador de Cabeças, é o simbolismo através do qual, os yorubanos tentam explicar a diversidade das características do caráter, do biofísico e do próprio desempenho do homem nesta vida.

Estabelecida desta forma, a relação homem-Orixá, resta-nos uma questão de fundamental importância: Por que razão, algumas pessoas são impelidas ou obrigadas a prestarem culto aos seus Orixás, enquanto outras passam pela vida sem sequer tomarem conhecimento de suas existências e, mesmo dentro do culto, observamos que alguns iniciados não são tomados por seus Orixás, embora prestem-lhe regularmente, reverências com sacrifícios e oferendas, como é o caso dos ogans e ekéjis.

       "Aos Orixás cabe o direito de, se assim quiserem, cobrar de seus filhos culto e oferendas como forma de "pagamento" (se é admissível o termo), pela utilização da matéria com a qual seus corpos foram confeccionados e que pertence a eles, Orixás."

Nos casos de pessoas que não são submetidas ao fenômeno de incorporação do Orixá, observa-se a superioridade hierárquica do Iporí em relação aos Orixás que, nos casos específicos de Ogans e Ekéjis, não permite que o Orixá, mesmo em se tratando do Olorí (Dono da cabeça) do indivíduo, se aposse ou se manifeste nestas cabeças, o que implica em obliteração parcial e momentânea de sua presença.

Existe no entanto, um culto específico à Iporí, o que significa dizer que, existe um culto específico à Divindade Suprema aí manifestada. 

Este culto, por demais comum, nem sempre pressupõe iniciação e nunca estabelece vínculo espiritual entre o sacerdote que o oficia e a pessoa que a ele se submete.

De posse desta informação podemos avaliar a importância e a solenidade da referida cerimônia, denominada "Ebori" - Ebó Ori- (dar comida à cabeça), para a qual existem várias fórmulas e variações, que vão desde oferendas incruentas, até cerimônias de liturgia complexa conforme a descrita na obra de Pessoa de Barros.

A verdade é que, o culto aos Orixás, tem sua origem estabelecida em tempos imemoriais, havendo surgido provavelmente, logo após a antropogênese, assim que o ser humano, dotado da capacidade de raciocínio, percebeu a existência de forças e entidades superiores e com elas estabeleceu um primeiro contato.

O termo "Orixá" é de origem yoruba, pertencendo portanto, à cultura religiosa deste povo e refere-se à Deuses de seu panteão, considerados como regentes das forças da natureza.

 As mesmas entidades, com outras denominações, são, sem dúvida, cultuadas por diferentes povos de diferentes organizações culturais, o que nos possibilita afirmar que, seja qual for a religião adotada, o homem religioso sempre presta-lhes culto, embora de formas diferentes.

Para melhor compreensão, selecionamos algumas análises etimológicas do termo "Orixá":
Segundo Abraham, Orixá = Oosà - Divindade yorubana separada de Olórún... 

Fonseca Jr., Orixá = Anjo de Guarda, etimo.: Ori = cabeça, Sa (xa) = guardião - Guardião da Cabeça, Divindade Elementar da Natureza, figura central do culto afro .

Os yorubanos acreditam que quando Deus criou o céu e a terra, criou simultaneamente, espíritos e divindades, conhecidos como Orixás, Imolés ou Eboras, para assumirem funções específicas no processo de criação, manutenção e administração do universo.

A diferença existente entre as três categorias de entidades espirituais aqui referidas não está muito bem delineada devido ao tratamento genérico dado a todas, até mesmo pelos próprios yorubanos.

No Brasil os termos Imole e Ebora são praticamente desconhecidos, sendo poucos os adeptos da religião que os utilizem ou saibam o seu significado.

Estes dois termos fazem referência às entidades espiritais situadas hierarquicamente, imediatamente abaixo dos verdadeiros Orixás, mais próximas, portanto, dos seres humanos. 

Entre elas se encontram aqueles que erradamente costumamos denominar Orixás, como Ogun, Oxóssi, Xangô, Oxun, Iyemanjá, etc..

O uso indiscriminado, embora errado, tornou-se um costume generalizado e, portanto, plenamente integralizado.

Alguns sacerdotes conceituados afirmam que o termo Orixá deveria ser utilizado exclusivamente em relação aos espíritos genitores que, efetivamente, participaram da criação do universo e que deram origem aos demais, de categoria hierárquica inferior, personificações de fenômenos e de elementos naturais como Terra, Fogo, Água, Ar, rios, lagoas, mares, pedras, montanhas, vegetais, minerais, etc...

Outros seriam ainda, figuras históricas tais como reis, guerreiros, fundadores de cidades, de dinastias, heróis e heroinas que, dado a importância de seus feitos, foram, depois de mortos, deificados e acrescentados ao panteão que, segundo Awolalu, está estimado em mais de 1700 entidades. 

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