domingo, 28 de fevereiro de 2016

LENDAS DE IROKO

LENDAS DE IROKO

1-Iroko castiga a mãe que não lhe dá o filho prometido
No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco. 
Iroco foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito. 
E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia.
À noite saia com uma tocha na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam Iroco e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.
 Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. 
Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroko. 
Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco.
Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroco de frente enlouqueciam e morriam. 
Suplicaram a Iroco, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca. 
As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros.
Cada uma prometia o que o marido tinha para dar. 
Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. 
Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Iroco o primeiro filho que tivesse.
Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. 
As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroco suas prendas. 
Em torno do tronco de Iroco depositaram suas oferendas.
Assim Iroco recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. 
Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. 
Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. 
No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido.
E o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore e, assim, o menino crescia forte e sadio. 
Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroco, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. 
Disse Iroco: "Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada.
Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa."
E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre.
Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte. 
Ele mantinha o menino em casa, longe de todos. 
Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroco.
Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: "Uma prometeu milho e deu o milho; Outra prometeu inhame e trouxe inhames; Uma prometeu frutas e entregou as frutas; Outra deu o cabrito e outra, o carneiro, sempre conforme a promessa que foi feita. 
Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido."
Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. 
Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroco. 
Ele tinha que salvar sua mulher! 
Mas como, se amava tanto seu pequeno filho? 
Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia.
Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroco, levou-o para casa e começou a entalhar. 
Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido.
O fez com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos.
Quando pronto, ele levou o menino de pau a Iroco e o depositou aos pés da árvore sagrada. 
Iroco gostou muito do presente. 
Era o menino que ele tanto esperava! 
E o menino sorria sempre, sua expressão, de alegria.
Iroco apreciou sobremaneira o fato de que ele jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. 
Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. 
Iroco estava feliz. 
Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente.
Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroco devolveu a Olurombi a forma de mulher. 
Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para o filho, já crescido e enfim libertado da promessa. 
Alguns dias depois, os três levaram para Iroco muitas oferendas.
Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. 
Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi. 
Até hoje todos levam oferendas a Iroco. 
Porque Iroco dá o que as pessoas pedem. 
E todos dão para Iroco o prometido.
2-Iroko ajuda a feiticeira a vingar o filho morto
Iroco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. 
Uma delas era Ajé, a feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher normal. 
Ajé era feiticeira, Ogboí, não. 
Iroco e suas irmãs vieram juntos do Orun para habitar no Ayê. Iroco foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs em casas comuns. Ogboí teve dez filhos e Ajé teve só um, um passarinho.
Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de Ajé. 
Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã. 
Mais tarde, quando Ajé teve também que viajar, deixou o filho pássaro com Ogboí.
Foi então que os filhos de Ogbói pediram à mãe que queriam comer um passarinho. 
Ela lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram.
Gritavam de fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro. 
A mãe foi então foi a floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer.
Na ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. 
Quando Ajé voltou e se deu por conta da tragédia, partiu desesperada a procura de Iroco. 
Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje. 
E de lá, Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí.
Desesperada com a perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogboí ofereceu sacrifícios para o irmão Iroco.
Deu-lhe um cabrito e outras coisas e mais um cabrito para Exú. 
Iroco aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos. 
Ogboí é a mãe de todas as mulheres comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que sempre perdem filhos para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras. 
Iroco mora na gameleira branca e trata de oferecer a sua justiça na disputa entre as feiticeiras e as mulheres comuns.
3-Iroko engole a devota que não cumpre a interdição sexual
Era uma vez uma mulher sem filhos, que ansiava desesperadamente por um herdeiro. 
Ela foi consultar o babalawo e o babalawo lhe disse como proceder. 
Ela deveria ir à árvore de Iroco e a Iroco oferecer um sacrifício. Comidas e bebidas que ele prescreveu a mulher concordou em oferecer.
Com panos vistosos ela fez laços e com os laços ela enfeitou o pé de Iroco. 
Aos seus pés depositou o seu ebó, tudo como mandara o adivinho. 
Mas de importante preceito ela se esqueceu. 
A mulher que queria ter um filho deu tudo a Iroco, quase tudo. 
O babalawo mandara que nós três dias antes do ebó ela deixasse de ter relações sexuais.
Só então, assim, com o corpo limpo, deveria entregar o ebó aos pés da árvore sagrada. 
A mulher disso se esqueceu e não negou deitar-se com o marido nos três que precediam o ebó.
Iroco irritou-se com a ofensa, abriu uma grande boca em seu grosso tronco  e engoliu quase totalmente a mulher, deixando de fora só os ombros e a cabeça. 
A mulher gritava feito louca por ajuda e toda a aldeia correu para o velho Iroco. 
Todos assistiam o desespero da mulher. 
O babalawo foi também até a árvore e fez seu jogo e o jogo que o babalawo fez para a mulher revelou sua ofensa,sua oferta com o corpo sujo, porque para fazer oferenda para Iroco é preciso ter o corpo limpo e isso ela não tinha.
Mas a mulher estava arrependida e a grande árvore deixou que ela fosse libertada. 
Toda a aldeia ali reunida regozijou-se pela mulher. 
Todos cantaram e dançaram de alegria. 
Todos deram vivas a Iroco. 
Tempos depois a mulher percebeu que estava grávida e preparou novos laços de vistosos panos e enfeitou agradecida a planta imensa.

Tudo ofereceu-lhe do melhor, antes resguardando-se para ter o corpo limpo. 
Quando nasceu o filho tão esperado, ela foi ao babalawo e ele leu o futuro da criança: deveria ser iniciada para Iroco. 
Assim foi feito e Iroco teve muitos devotos. 
E seu tronco está sempre enfeitado e aos seus pés não lhe faltam oferendas.

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