LENDAS
DE IROKO
1-Iroko
castiga a mãe que não lhe dá o filho prometido
No
começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco.
Iroco foi a primeira
de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na
mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito.
E o espírito de Iroco era
capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se
divertia.
À
noite saia com uma tocha na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o
que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia
muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam Iroco e seus poderes e
quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte.
Numa certa época, nenhuma das mulheres da
aldeia engravidava.
Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam
desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos
poderes de Iroko.
Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o
cuidado de manter as costas voltadas para o tronco.
Não
ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroco de
frente enlouqueciam e morriam.
Suplicaram a Iroco, pediram a ele que lhes desse
filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca.
As mulheres eram, em sua
maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas,
cabritos e carneiros.
Cada
uma prometia o que o marido tinha para dar.
Uma das suplicantes, chamada
Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para
oferecer.
Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Iroco
o primeiro filho que tivesse.
Nove
meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos.
As
jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroco suas prendas.
Em torno do
tronco de Iroco depositaram suas oferendas.
Assim
Iroco recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros.
Olurombi contou toda
a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa.
Ela e o marido
apegaram-se demais ao menino prometido.
No dia da oferenda, Olurombi ficou de
longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido.
E
o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore e, assim, o menino
crescia forte e sadio.
Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do
Iroco, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem
na sua frente, saltou o temível espírito da árvore.
Disse Iroco: "Tu me
prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada.
Transformo-te então num
pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa."
E
transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver
para sempre.
Olurombi
nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte.
Ele
mantinha o menino em casa, longe de todos.
Todos os que passavam perto da
árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a
Iroco.
Até
que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal
pássaro, que cantava assim: "Uma prometeu milho e deu o milho; Outra
prometeu inhame e trouxe inhames; Uma prometeu frutas e entregou as frutas;
Outra deu o cabrito e outra, o carneiro, sempre conforme a promessa que foi
feita.
Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido."
Ouvindo
o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu
tudo imediatamente.
Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroco.
Ele
tinha que salvar sua mulher!
Mas como, se amava tanto seu pequeno filho?
Ele
pensou e pensou e teve uma grande idéia.
Foi
à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroco, levou-o para casa e começou a
entalhar.
Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco
que jamais havia esculpido.
O
fez com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Depois
poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas
sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou
com ricas jóias de família e raros adornos.
Quando
pronto, ele levou o menino de pau a Iroco e o depositou aos pés da árvore
sagrada.
Iroco gostou muito do presente.
Era o menino que ele tanto esperava!
E
o menino sorria sempre, sua expressão, de alegria.
Iroco
apreciou sobremaneira o fato de que ele jamais se assustava quando seus olhos
se cruzavam.
Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem
lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente.
Iroco estava feliz.
Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia ritmadamente com os pés
no solo e cantava animadamente.
Tendo
sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroco devolveu a Olurombi a forma de
mulher.
Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e
para o filho, já crescido e enfim libertado da promessa.
Alguns dias depois, os
três levaram para Iroco muitas oferendas.
Levaram
ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de
estampas coloridas para adornar o tronco da árvore.
Eram presentes oferecidos
por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi.
Até hoje todos levam oferendas a Iroco.
Porque Iroco dá o que as pessoas pedem.
E todos dão para Iroco o prometido.
2-Iroko
ajuda a feiticeira a vingar o filho morto
Iroco
era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs.
Uma delas era Ajé, a
feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher normal.
Ajé era feiticeira,
Ogboí, não.
Iroco e suas irmãs vieram juntos do Orun para habitar no Ayê. Iroco
foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs em casas comuns. Ogboí teve dez
filhos e Ajé teve só um, um passarinho.
Um
dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de
Ajé.
Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã.
Mais tarde, quando Ajé
teve também que viajar, deixou o filho pássaro com Ogboí.
Foi
então que os filhos de Ogbói pediram à mãe que queriam comer um passarinho.
Ela
lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram.
Gritavam de
fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro.
A mãe foi então foi a
floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer.
Na
ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de
Ajé.
Quando Ajé voltou e se deu por conta da tragédia, partiu desesperada a
procura de Iroco.
Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje.
E de lá,
Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí.
Desesperada com a
perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogboí ofereceu
sacrifícios para o irmão Iroco.
Deu-lhe
um cabrito e outras coisas e mais um cabrito para Exú.
Iroco aceitou o
sacrifício e poupou os demais filhos.
Ogboí é a mãe de todas as mulheres
comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que sempre perdem filhos
para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras.
Iroco mora na
gameleira branca e trata de oferecer a sua justiça na disputa entre as
feiticeiras e as mulheres comuns.
3-Iroko
engole a devota que não cumpre a interdição sexual
Era
uma vez uma mulher sem filhos, que ansiava desesperadamente por um herdeiro.
Ela foi consultar o babalawo e o babalawo lhe disse como proceder.
Ela deveria
ir à árvore de Iroco e a Iroco oferecer um sacrifício. Comidas e bebidas que
ele prescreveu a mulher concordou em oferecer.
Com
panos vistosos ela fez laços e com os laços ela enfeitou o pé de Iroco.
Aos
seus pés depositou o seu ebó, tudo como mandara o adivinho.
Mas de importante
preceito ela se esqueceu.
A mulher que queria ter um filho deu tudo a Iroco,
quase tudo.
O babalawo mandara que nós três dias antes do ebó ela deixasse de
ter relações sexuais.
Só
então, assim, com o corpo limpo, deveria entregar o ebó aos pés da árvore
sagrada.
A mulher disso se esqueceu e não negou deitar-se com o marido nos três
que precediam o ebó.
Iroco
irritou-se com a ofensa, abriu uma grande boca em seu grosso tronco e engoliu
quase totalmente a mulher, deixando de fora só os ombros e a cabeça.
A mulher
gritava feito louca por ajuda e toda a aldeia correu para o velho Iroco.
Todos
assistiam o desespero da mulher.
O babalawo foi também até a árvore e fez seu
jogo e o jogo que o babalawo fez para a mulher revelou sua ofensa,sua oferta
com o corpo sujo, porque para fazer oferenda para Iroco é preciso ter o corpo
limpo e isso ela não tinha.
Mas
a mulher estava arrependida e a grande árvore deixou que ela fosse libertada.
Toda a aldeia ali reunida regozijou-se pela mulher.
Todos cantaram e dançaram
de alegria.
Todos deram vivas a Iroco.
Tempos depois a mulher percebeu que
estava grávida e preparou novos laços de vistosos panos e enfeitou agradecida a
planta imensa.
Tudo
ofereceu-lhe do melhor, antes resguardando-se para ter o corpo limpo.
Quando
nasceu o filho tão esperado, ela foi ao babalawo e ele leu o futuro da criança:
deveria ser iniciada para Iroco.
Assim foi feito e Iroco teve muitos devotos.
E
seu tronco está sempre enfeitado e aos seus pés não lhe faltam oferendas.
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